Outrora uma espécie comum na bacia do Mediterrâneo, no Mar Negro e em arquipélagos e costas atlânticas, as focas-monge (Monachus monachus) são atualmente dos mamíferos marinhos mais ameaçados do mundo. Estima-se que a sua população ronde os 600 exemplares, espalhados em apenas três núcleos reprodutores: Mediterrâneo oriental, Sara ocidental e ilhas desertas do arquipélago da Madeira.
As notícias mais recentes apontam para a estabilidade no número de efetivos, durante os últimos anos. Mas é uma estabilidade sempre precária. Para fugirem da perseguição humana, as focas-monge tiveram de abandonar os seus locais de eleição, os grandes areais costeiros, e refugiaram-se em grutas marinhas – abrigos onde a sobrevivência dos adultos se torna mais dura e as taxas de natalidade tendem a ser baixas.
Mas essa não é a única, nem a principal, ameaça a esta espécie marinha. Uma equipa internacional de investigadores, que contou com a participação de alguns portugueses, concluiu recentemente que as focas-monge têm vindo a perder a sua diversidade genética nos dois últimos séculos.
Para chegarem a esta conclusão, os cientistas analisaram amostras históricas, oriundas de peles antigas ou de animais embalsamados, e amostras recentes. Com esse material biológico recolhido sequenciaram o ADN mitocondrial – passado de geração em geração de mães para filhas. A comparação das amostras permitiu concluir que, além do desaparecimento de populações reprodutoras inteiras, os sobreviventes perderam diversidade genética. O que os torna particularmente vulneráveis a fenómenos de mortalidade em massa, como doenças contagiosas.
A população de focas-monge da Madeira, conhecidos localmente como lobos-marinhos e estimados em cerca de 25 exemplares, apresentou a mesma sequência de ADN mitocondrial entre as amostras antigas e recentes. Ou seja, não perderam diversidade desde o início do século XX até agora, mas apenas porque a sua diversidade genética já era muito escassa desde essa época. A perseguição por causa da sua carne e do óleo e a massificação do turismo, que lhes retirou os habitats de reprodução, está na origem desta situação de pré-extinção local.
Nesta descoberta, publicada na revista científica Zoological Journal of the Linnean Society, participou um grupo multidisciplinar de cientistas nacionais e estrangeiros, onde se destaca Paula Campos, investigadora do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto.
Por: Paulo Caetano
Para saber mais:
www.academic.oup.com/zoolinnean/advance-article/doi/10.1093/zoolinnean/zlaa084/5897344?searchresult=1