A notícia caiu como uma bomba, quer no meio científico, quer junto da opinião pública. A tese dominante na época, sobre a extinção dos neandertais, defendia que tinham desaparecido por causa da incapacidade de se adaptarem às mudanças climáticas e, eventualmente, como consequência de contatos hostis com o homem moderno. Mas nunca por causa de uma possível miscigenação.
Este investigador do ICREA tinha, na sua frente, as provas que essas teses podiam estar erradas. E, nos anos seguintes, dedicou-se a estudar diversos outros achados recentes, em diferentes partes do mundo, que mostravam que o Menino do Lapedo não era caso único. João Zilhão participou, por exemplo, nos estudos da mandíbula humana descoberta na caverna romena Pestera cu Oase – que também apresenta características mistas.
Hoje sabe-se que a cultura neandertal era bastante evoluída. Possuíam linguagem, uma estrutura social idêntica a outras comunidades de caçadores-recolectores, dominavam o fogo e uma indústria lítica rudimentar, construíam abrigos, usavam adornos e possuíam rituais fúnebres. E, acredita João Zilhão, esses humanos antigos nunca se extinguiram. Misturaram-se com os homens modernos vindos de África e as suas caraterísticas físicas e culturais foram-se diluindo. Os avanços da genética, após a sequenciação do genoma humano, vieram confirmar que cada humano atuai possui entre 2 a 4 por cento de genes herdados dos neandertais. E que a Humanidade, no seu todo, ainda preserva mais de 50 por cento das características dos nossos antepassados neanderthalensis.
João Zilhão tem, também uma vasta experiência na arte e cultura do Paleolítico. Esteve, desde o início, envolvido no estudo científico e na luta pela preservação das Gravuras do Côa – 17 quilómetros de arte rupestre, constituindo um dos grandes e únicos museus ao ar livre do mundo. Esse seu envolvimento, científico e cívico, culminou com a suspensão da Barragem e a criação do Parque Arqueológico do Vale do Côa, do qual foi o primeiro diretor. O reconhecimento internacional chegou pouco depois, com a classificação destas gravuras paleolíticas como Património Mundial, pela UNESCO.
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